Materiais e técnicas  

O Castelo está sendo construído sobre um platô de pedras, blocos de concreto e concreto armado fundido im loco, com fundações de três metros de profundidade. As paredes são de alvenaria estrutural de blocos de concreto, com armadura vertical e grout. Francisco preferiu não estruturar a casa com pilares e vigas, como a maioria das casas da região, embora use colunas de concreto revestidas de pedras nos apoios das varandas. As lajes são maciças de concreto e suas fôrmas foram feitas com pedaços de madeira encontrados na rua. Tijolos cerâmicos são usados nas varandas, na divisão do banheiro e nos ressaltos volumétricos: "essas gambiarras são feitas com tijolo vermelho".

Grande parte do material para a obra é recolhido na rua e em caçambas e transportado até o Castelo numa bicicleta ou na moto de Francisco, que ele usa apesar de não ter habilitação. As pedras foram coletadas no alto do morro e transportados num carrinho de mão; tarefa para a qual Francisco se permitiu a contratar um ajudante. Alguns blocos de concreto foram comprados do distribuidor local, outros de um artesão vizinho, Benedito, que fabrica blocos reciclando entulho da construção civil. Melhores e mais baratos (sem frete), segundo Francisco.

Muitos materiais que Francisco emprega não são os convencionalmente usados na construção civil. Na realidade, ele usa o que tem à mão: sombrinha ou piscina infantil como coberturas, hastes metálicas e vergalhões como guarda-corpo etc. Mas também há casos em que faz exigências bastante específicas. Na cobertura, por exemplo, há dois telhados em forma de pirâmide, estruturados com madeira reaproveitada de tamanhos diversos. As telhas são de tipo francesa, produzidas pela empresa São Sebastião em Sete Lagoas (MG) que, segundo Francisco, não as fabrica mais. Ele as escolheu pelo seu tamanho reduzido e seu encaixe justo, ideal para as pirâmides de pequenas dimensões do Castelo. Como não estão à venda, as procurou cuidadosamente em demolições e caçambas.

Na construção do Castelo, Francisco diz não se preocupar com nível, prumo e esquadro. Diz que deverão ser acertados depois, “na massa”. Inicialmente, ele começou a fazer o assentamento dos blocos com mais cuidado, mas a necessidade de fechar rapidamente o último cômodo do primeiro piso e dar um uso ao Castelo o apressou e o fez preferir o trabalho posterior de acerto. Por outro lado, toda a obra apresenta esmero extremo nos detalhes, como uma espécie de bricolagem sofisticada.

O acesso ao segundo pavimento acontece pela Rua Flor de Maio e por uma escada externa saindo da cozinha do primeiro pavimento passando pelo espaço do afastamento entre o Castelo e o vizinho dos fundos. Com pouco espaço para construir a escada, Francisco optou por espelhos altos e na curva um degrau triplo.

Deparamo-nos com uma técnica especialmente curiosa ao observar Francisco executando a instalação hidráulica e o revestimento do banheiro. As duas coisas se fazem simultanteamente. Primeiro, ele posiciona toda a tubulação sobre a alvenaria, amarrando com pregos e arames. Depois posiciona a primeira fiada de placas do revestimento cerâmico (de cerca de 30cm x 50cm). Finalmente, preenche com argamassa o espaço entre a alvenaria e o revestimento, fixando esse último e as tubulações ao mesmo tempo. O processo consome uma quantidade grande de argamassa, com espessura média de 4cm, mas reduz as fases de trabalho e permite embutir a tubulação sem cortar a alvenaria (que é estrutural). Segundo Francisco, cortá-la é ruim porque “abala”.