feminismo e sexualidade

[1975] GAYLE RUBIN. O tráfico de mulheres: notas sobre a 'economia política' do sexo [The Traffic in Women: Notes on the 'Political Economy' of Sex]. In: Políticas do sexo. Trad. Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Ubu, 2017.
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[1977] AUDRE LORDE. A transformação do silêncio em linguagem e ação [The Transformation of Silence into Language and Action]. In: Irmã Outsider: ensaios e conferências. Trad. Stephanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica, 2019, pp. 51–55.
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[1990] JUDITH BUTLER. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade [Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity]. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, pp. 7–70 (Prefácio + Cap. 1: Sujeitos do sexo / gênero / desejo).
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[1993] EVE KOSOFSKY SEDGWICK. A epistemologia do armário [Epistemology of the Closet]. Trad. Plínio Dentzien; Revisão: Richard Miskolci e Júlio Assis Simões. Cadernos pagu, n. 28, 2007, pp. 19-54.
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[2004] GUACIRA LOPES LOURO. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004, 7–25 (Prefácio + Cap 1: Viajantes pós modernos + Cap 2: Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação).
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[2008] BERENICE BENTO. O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense, 2008, pp. 11–56.
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 [2012] RICHARD MISKOLCI. Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica, 9–34 (Introdução + cap. 1: Origens históricas da Teoria Queer). .
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[2020] TAYLISI LEITE. Crítica ao feminismo liberal: valor-clivagem e marxismo feminista. São Paulo: Contracorrente, (Cap. 4.2: Scholz e os debates feministas não marxistas – 4.2.2. Judith Butler).
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vídeos, áudios etc.

Palestra de  Helena Vieria (transfeminista) e Monique Prada (Putafeminista) - Sexualidade, Identidade de  Gênero e Feminismos.





O tráfico de mulheres: notas sobre a 'economia política' do sexo

Gayle Rubin

Gayle Rubin (1949) é uma antropóloga estadunidense, nascida numa família judia da Carolina do Sul. Militante do movimento feminista, gay e lésbico desde a década de 1960, foi uma das primeiras autoras a trabalhar a questão de gênero relacionada à opressão das mulheres. A obra de Rubin compreende uma variedade de assuntos dentro do feminismo, incluindo desde sadomasoquismo, prostituição, pedofilia e pornografia até a literatura lésbica. Atualmente é professora de antropologia e estudos femininos na Universidade de Michigan. O ensaio “Tráfico de mulheres: notas sobre a economia política do sexo” (1975), escrito enquanto a autora estava na pós-graduação, é um dos trabalhos precursores dos estudos sobre gênero e sexualidade, e uma referência obrigatória na literatura feminista. Neste ensaio, Rubin faz o esforço de compreender as causas da subordinação da mulher e, para isso, conceitua o que denomina “sistema sexo-gênero”. Segundo a autora, esse sistema é formado por uma série de arranjos pelos quais uma sociedade transforma a sexualidade biológica em produtos da atividade humana. Rubin aborda temas e categorias da filosofia, da economia política, da psicanálise, da antropologia e do feminismo, trabalhando com autores clássicos como Karl Marx, Friedrich Engels, Lévi-Strauss, Sigmund Freud, Jacques Lacan e Monique Wittig. Nos anos 1980, embora o “sistema sexo-gênero” de Rubin tenha se popularizado, também foi objeto de crítica. As feministas negras questionaram sua concepção como branca e imperialista, já que as mulheres negras, quando escravizadas, não foram constituídas como mulheres da mesma maneira que as mulheres brancas.



A transformação do silêncio em linguagem e ação

Audre Lorde

Audre Lorde (1934) foi uma escritora estadunidense, feminista, negra, lésbica, filha de imigrantes caribenhos que viviam nos Estados Unidos. Estudou biblioteconomia no Hunter College (1954–1959) e fez mestrado na mesma área na Universidade Columbia (1961). O ensaio "A transformação do silêncio em linguagem e ação” é um testemunho potente e direto sobre a necessidade, em meio a múltiplas opressões racistas e patriarcais, das mulheres, principalmente negras e lésbicas, de entenderem, questionarem, enfrentarem e romperem com o silêncio. Para ela, a transformação do silêncio em linguagem e ação é um ato de auto-revelação e pode ser entendido como motor para uma transformação coletiva. O texto é a transcrição de uma fala proferida, em 1977, por Audre Lorde no painel “Lésbicas e Literatura”, na Associação de Línguas Modernas, em Chicago, Illinois. O ensaio também faz parte do seu primeiro livro traduzido no Brasil, em 2019, chamado Irmã Outsider.



Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade

Judith Butler

Judith Butler (1956), é uma filósofa pós-estruturalista lésbica e não-binária (prefere ser tratada por pronomes femininos ou neutros), nascida numa família judia, em Cleveland, Ohio. É, atualmente, uma das teóricas mais influentes e produtivas do mundo na área dos estudos de gênero, feminismo, sexualidade e teoria queer, além de uma forte ativista pelos direitos das mulheres. Butler possui uma obra extensa, que abrange também os campos da filosofia, política e ética. Começou a se interessar por filosofia aos quatorze anos, depois de ter sido punida com aulas de ética por ser “muito falante, contestadora e não comportada”. Formou-se na Universidade de Yale, em 1978, e, aos 28 anos (1984), defendeu a sua tese de doutorado, intitulada Temas do desejo: reflexões hegelianas na França do século XX. Hoje é professora de Literatura Comparada no Departamento de Retórica da Universidade da Califórnia, em Berkley. Seu livro Problemas de gênero: feminismo e a subversão da identidade foi publicado nos Estados Unidos em 1990 e lançado no Brasil em 2003. Atualmente, é considerado um dos livros fundadores da teoria queer. Nele, Butler vai questionar a categoria mulher como sujeito único do feminismo e parte, de forma radical, para uma desconstrução do conceito de gênero em que está ancorada toda uma teoria e prática feminista. Uma de suas proposições é realizar uma revisão de como as categorias de sexo e gênero são tratadas no feminismo. Ela questiona o que denomina heterossexualidade compulsória: atos normativos, considerados naturais, afirmados pela repetição de valores heterossexuais. Butler entende que existem identidades fluidas, pensadas no plural, e não apenas uma identidade fixa. Isso explica o subtítulo do livro: feminismo e a subversão da identidade. Amparada numa ampla literatura estruturalista e pós-estruturalista, a autora defende que o sexo é também uma categoria discursiva e construída social e culturalmente. Assim como o gênero, é performativa. Gênero não é algo que se é, mas algo que se faz.



A epistemologia do armário

Eve Kosofsky Sedgwick

Eve Kosofsky Sedgwick (1950–2009) foi uma poetisa, artista, crítica literária e professora nascida em Dayton, Ohio. Nos Estados Unidos, é conhecida como uma das criadoras da teoria queer, principalmente por conta de um trabalho de 1993, “A epistemologia do armário”. Nele, a autora busca compreender as formas de regulação embutidas nas ideias de ocultação/revelação do que significa a metáfora do armário para gays e lésbicas, baseadas na ideia de que “se assumir é sair do armário”. Sedgwick faz uma crítica ao pensamento moderno binário e heteronormativo de dentro/fora, homo/hetero, público/privado e, valendo-se do recurso de narrativas literárias, enxerga o armário como uma estrutura contraditória e definidora da opressão gay e lésbica no século XX, isto é, como um importante dispositivo de regulação da vida social: ninguém pode estar completamente nele, e não há nenhuma certeza de beneficio ao deixá-lo.



Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer

Guacira Lopes Louro

Guacira Lopes Louro é uma intelectual brasileira que estuda gênero, sexualidade e teoria queer. Licenciada em História, elaborou sua tese de doutorado na Educação e, atualmente, é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em sua trajetória acadêmica, Louro sempre procurou refletir sobre a forma como o gênero e a sexualidade se cruzam com as políticas educacionais. Em 1990, criou o GEERGE (Grupo de Estudos de Educação e Relação de Gênero). No Brasil, um dos primeiros textos em português sobre a teoria queer é de sua autoria: "Teoria Queer: uma política pós-identitária para a educação" (2001). Este ensaio também está no livro Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer (2004). O livro reúne outros três ensaios: “Viajantes pós-modernos”, “Estranhar o currículo” e “Marcas do corpo, marcas de poder”. O livro é uma ótima introdução aos estudos de sexualidade e teoria queer no Brasil, e, mesmo dialogando com importantes nomes da literatura pós-estruturalista, como Michel Foucault, Jacques Derrida e Judith Butler, não perde de vista as transformações histórico-políticas ocorridas no país. Com um tom claro, didático e quase literário, Louro nos conduz a questionar, estranhar, perturbar e desestabilizar algumas certezas relacionadas a gênero e sexualidade numa perspectiva teórico-crítica, não só da educação, mas da sociedade.



O que é transexualidade

Berenice Bento

Berenice Bento (1966) é socióloga graduada pela Universidade Federal de Goiás, mestre e doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília. Atualmente, é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisa na área dos estudos de gênero, sexualidade, teoria queer, direitos humanos e decolonidalidade. Bento é uma das primeiras brasileiras a interpretar a experiência transexual a partir de uma crítica das abordagens patologizantes da medicina. Sua tese de doutorado, intitulada A (re)invenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual, defendida em 2003, foi a primeira tese a trabalhar com a teoria queer no Brasil e uma das primeiras a usar referências importantes como Paul Preciado e Judith Butler, na época ainda pouco traduzidos no Brasil. Em O que é transexualidade (2008), também uma obra pioneira, Bento problematiza o que é tido por normal e biológico a partir das noções de feminilidade e masculinidade. Ela trata dos limites das instituições sociais ao lidar com demandas de pessoas que vivenciam seu gênero independentemente da diferença sexual. Bento defende que existe uma pluralidade de vivências da sexualidade na transexualidade e que isso precisa de reconhecimento. Essa discussão é de extrema relevância para o contexto brasileiro. Em 2020, o Brasil foi eleito pela décima segunda vez o país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo. Paradoxalmente, também é um dos países que mais consome pornografia trans. A população brasileira trans tem expectativa de vida de cerca de trinta e cinco anos, e pouca perspectiva de estudar ou trabalhar. São pessoas expulsas de casa muito cedo, que sobrevivem, em sua maioria (90%), da prostituição.



Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças

Richard Miskolci

Richard Miskolci (1971) é professor de Sociologia do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, onde coordena a área de Ciências Sociais e Humanas em Saúde e o grupo Quereres (Núcleo de Pesquisa em Diferenças, Direitos Humanos e Saúde). O livro Teoria queer: um aprendizado pelas diferenças, lançado em 2012, é uma revisão e ampliação de sua aula magna realizada na abertura do curso de Educação para a Diversidade e Cidadania, na Universidade Federal de Ouro Preto, em 2010. Além da introdução, a obra é dividida em três ensaios: “Origens históricas da teoria queer”, “Estranhando a educação” e “Um aprendizado pelas diferenças.” Além de fazer uma ótima contextualização sobre as origens históricas da teoria queer, o autor nos convida, por meio de uma escrita sincera e sensível, a um novo olhar para a escola e para a educação. Miskolci critica a ideia de um conhecimento científico neutro e ressalta que a ilusão da neutralidade é produzida a partir de uma perspectiva heterossexista, normalizadora e, na maioria das vezes, violenta. Sua aposta é a de repensar a educação a partir da teoria queer, rompendo com a escola heteronormativa. Um aprendizado pela diferença é o que busca a transformação, a mudança nas relações de poder, pois lidar com o diferente é reconhecer o outro e valorizá-lo em sua particularidade.



Crítica ao feminismo liberal: valor-clivagem e marxismo feminista

Taylisi Leite

Este livro, lançado em 2020, como o próprio título diz, é mais associado ao feminismo marxista e a uma crítica do feminismo liberal. Tem como ponto central a discussão da teoria de Roswitha Scholz e seu conceito de valor vinculado ao gênero: o chamado de valor-clivagem ou valor-dissociação. Ambas as autoras analisam as relações peculiares entre sociedade patriarcal contemporânea e modo de produção capitalista, centrado no valor. Na parte quatro do livro, intitulada “Roswitha Scholz e os feminismos”, Taylisi Leite faz um debate de como Roswitha compreende a obra de Judith Butler e a teoria queer. Escolhemos essa seção do livro no intuito de trazer perspectiva crítica da teoria queer. Ela evidencia divergencias entre uma perspectiva materialista histórica e dialética e outra pós-estruturalista.