O QUE É O JOGO

O Jogo da Maquete é uma interface para facilitar a concepção e discussão coletiva de projetos, especialmente na assessoria técnica de grupos sócio-espaciais. Começamos os experimentos com ele no início de 2018 e temos feitos desde então. Abaixo, estão os princípios básicos, as informações necessárias para fabricar o jogo (versão junho de 2019), macetes para usá-lo e relatos de experiências que fizemos com ele.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

interação
O JOGO serve para criar objetos de interação, não para fazer maquetes de concepções arquitetônicas prontas, fechadas e detalhadas, das quais se queira convencer alguém.

imaginação
Ele é uma ajuda para a imaginação, não o seu substituto. Por isso as peças não são miniaturas perfeitas, realistas. Queremos que os jogadores tenham sempre em mente o desafio de imaginar o espaço real. Alguns exercícios iniciais facilitarão essa tradução.

facilidade
Mexer no Joma é simples porque as peças de paredes são encaixadas firmemente nos sulcos da base, sem serem acopladas entre si. Mudar uma parede não exige desmontar outras (como ocorre no Lego, por exemplo).

escala
Tudo é 25 vezes menor do que na vida real (escala 1/25). Assim, as peças têm tamanho confortável, mesmo para mãos de adultos, e várias pessoas podem mexer no jogo juntas.

modulação
Todos os componentes são coordenados em 2,4cm, o que equivale a 60cm na escala 1/25. É uma medida que facilita a montagem de ambientes bem dimensionados, corresponde a padrões internacionais de coordenação modular e é compatível com o tamanho de muitos componentes e materiais de construção existentes no mercado.

transporte
Todas as peças cabem numa mala de madeira, que também pode ser usada como tampo de mesa quando não há outra superfície lisa e firme para isso.

BASES

Os painéis de base representam o terreno (ou uma laje). São usados separadamente ou juntos, de acordo com a situação. Cada base equivale a 12m x 12m, de modo que duas bases formam um terreno de 12m x 24m e três bases, um de 12m x 36m. As bases são de chapa de mdf com quadradinhos de eva. Cada quadradinho corresponde a 60cm.



PAREDES

O jogo inclui componentes de parede com larguras de coordenação de 60cm, 120cm, 240cm e 360cm.

A altura das paredes corresponde a 240cm. Isso é menor do que um pé direito padrão, mas torna a percepção da maquete mais semelhante às proporções que percebemos no espaço real.

Há paredes lisas, paredes com portas (simples e duplas) e paredes com janelas (altas ou de peitoril de 1m).

Para evitar miniaturas realistas e concentrar a atenção nas proporções e articulações entre espaços, deixamos as paredes da cor do mdf.

MÓVEIS E EQUIPAMENTOS

As peças de mobiliário e equipamentos são simples, feita de cartolina branca dobrada e colada. Essas peças dão uma ideia do volume que determinados objetos ocupam e, assim, podem ajudar a imaginar espaços. Seu objetivo, portanto, não é imitar a realidade, nem brincar de casinha (aliás, quem brinca de casinha nem precisa pensar em tamanhos e proporções compatíveis).

TRENA COM MARCAÇÕES

É importante que os jogadores percebam (no corpo, na sensação, na imaginação, no raciocínio) como a maquete se relaciona com o espaço real. Ajuda nesse processo uma trena com marcação de 60cm em 60cm. Cada quadradinho na base corresponde ao tamanho (comprimento e largura) de uma marcação na trena.

MALA

A mala que acomoda o jogo pode ser usada como suporte ou mesa, se não houver uma superfície firme disponível.
De compensado fica mais leve; de mdf, mais barata.

EXERCÍCIO DO LUGAR REAL (PARA COMEÇAR)

Nossa sugestão é começar montando, na maquete, o lugar em que os jogadores estão (sala, galpão etc.), sobretudo se forem jogadores novatos.

Isso ajuda a fazer com que entendam a maquete como mais do que uma miniatura bonitinha e comecem a relacioná-la com o espaço real, que experimentam de fato, isto é, que ocupam com o próprio corpo. Só assim os elementos da maquete chegam a adquirir sentido na imaginação espacial de cada um e podem servir como apoio na elaboração coletiva de um projeto ou esquema espacial.

O exercício de construir na maquete o lugar real pode ser feito:

A opção da trena funciona assim:

Se estiver usando o jogo num processo de assessoria técnica, mostre aos jogadores a relação entre a marcação da trena e os quadradinhos, e se necessário, monte a primeira parede, mas depois deixe que façam o resto e ajude apenas se surgirem dificuldades.

A tendência é subestimar o efeito do exercício do lugar real, pensar que seria óbvio e desnecessário. Nossas experiências mostram o contrário: quem o faz vê a maquete com o outros olhos.

INGREDIENTES PARA FABRICAR O JOGO

3 chapas de MDF de 3mm x 50cm x 150cm
[para paredes, bases e divisões internas da mala]

1 chapa de MDF de 6mm x 50cm x 150cm
[para a mala; alternativa: chapa de compensado de 10mm]

1 manta de EVA de 4mm x 50cm x 150cm
[para as bases]

4 folhas de cartolina branca
[para os móveis e equipamentos]

2 dobradiças de 4cm ou maior
1 alça para carregar
1 fecho metálico
[para a mala]

Trena ou fita métrica de pelo menos 5m

Caneta permanente ou fita isolante
[para marcar a trena]

Cola instantânea de cianoacrilato (Superbonder)
[para as bases e os móveis e equipamentos]

Cola branca de madeira
[para a mala]

DXF dos arquivos para corte

OCUPAÇÃO VICENTÃO (ONDE O JOGO RENDEU POUCO)

A Vicentão foi uma das mais marcantes ocupações no centro de Belo Horizonte no ciclo recente de lutas populares por moradia. Foi organizada por quatro movimentos em conjunto: Brigadas Populares, Intersindical, Associação Morada de Minas e Associação dos Moradores de Aluguel da Grande Belo Horizonte. Em janeiro de 2018, cerca de 80 famílias ocuparam um antigo banco, que estava ocioso havia anos. Deixaram o prédio em janeiro de 2019, depois de muita polêmicas brigas e negociações com a Cohab.

A partir de março de 2018, Leta, Tiago Castelo Branco, Isabela Barreto e muitos outros estudantes de graduação e pós se engajaram na assessoria técnica da Vicentão, gerando material para discussões com e entre os moradores acerca dos espaços coletivos e da articulação das unidades individuais nos andares.

 

 

A primeira maquete produzida aí inspirou-se apenas muito vagamente no Jogo da Maquete (em desenvolvimento no MOM na mesma época): andares desmontáveis e divisões internas flexíveis, mas na escala 1:100, para viabilizar a representação do edifício inteiro.

Apesar de ter ajudado as pessoas a enxergar o prédio como um todo, essa maquete não estimulou as discussões substancialmente, por várias razões. A escala era pequena demais para uma visualização das unidades habitacionais e para a manipulação conjunta por várias pessoas. Além disso, a interface chegou tarde, num momento em que a maior parte dos arranjos espaciais já havia sido acordada.

 

A segunda maquete foi produzida algumas semanas depois, dessa vez com a intenção de fomentar as discussões específicas em cada andar (os andares formaram subgrupos vinculados a diferentes movimentos sociais.) A base dessa segunda maquete representa um andar tipo, na escala de 1:33. Há um suporte desmontável e uma mala para guardar base, suporte, paredes de EVA e mobiliário.

Nesse caso, a interface rendeu mais do que na experiência anterior, em parte por causa da escala mais confortável e da redução do grupo envolvido e em parte por causa da forma de apresentação. Isabela propôs e acompanhou atividades com a interface por mais tempo e de modo mais sistemático do que havia acontecido até então.
(Cf. BARRETO,Cotidiano e assessoria técnica na Ocupação Vicentão, 2019.)

Em breve, relatos de outras experiências que já fizemos com o jogo (bem sucedidas)...