Os anos 1920
Na década
de 1920, os discursos das revistas examinadas se centram na idéia de que a
construção de "habitações higiênicas" pelo poder público resolveria o problema
habitacional. Tais habitações substituiriam os "casebres" e as "casas de cômodos",
considerados a origem de quase todos os males. Especialmente interessante
nesse sentido é uma matéria públicada - "As favellas vão desapparecer" (A Casa, 1927, n.44, p.17). Inicialmente, as "favellas" (termo então
ainda escrito sempre entre aspas) são caracterizadas como um problema comum
do mundo moderno. Como todas as grandes cidades, o Rio também possui bairros
pobres, apresentando chocante contraste com a civilização que bem ao lado
se desenvolveu. Mas existe a percepção de sua exacerbação, além de uma preocupação
com a imagem da cidade para o estrangeiro que nos visita que não pode ter
senão péssima impressão ao deparar em pleno centro urbano, com infectos casebres,
amontoados sobre os morros que se erguem no coração da Capital. Porém, ao
mesmo tempo, parece haver consciência de que a simples remoção dessas moradias
também não é uma solução, pois leva a novos problemas. "Andariam, pois, acertadamente
os poderes públicos se, em vez de ordenar como fizeram a demolição desses
casebres, tivessem anteriormente cogitado da construção de pequenas casas
higiênicas para abrigar enorme massa popular que está sendo deslocada desses
morros". Como isso não foi feito, constata o autor do artigo, novos desabrigados
irão se "juntar à fileira dos que já vinham luctando contra a falta de moradia".
Ainda na mesma linha de raciocínio - devem ser construídas casas unifamiliares,
entregues prontas aos usuários - apresentam-se "modelos" de casas, seguindo
os princípios fundamentais do espaço da elite, ou seja, espaços hierarquizados,
sem sobreposição de funções (daí os nomes dos cômodos: sala de jantar, sala
de estar, cozinha, etc.). A matéria intitulada "Habitação Econômica" (A
Casa, 1929, n.59, p.22-23) traz uma casa de 90m2, com dois pavimentos,
amplas janelas e uma porta de entrada que lhe dá ares burgueses e mereceu
destaque no texto: o pórtico dá acesso a duas portas, uma abrindo para a sala
de visitas e outra para a sala de jantar.
Algumas vezes, essa imagem das moradias parece mais importante do que seu
espaço interno, mostra o artigo "Casas de Madeira e Cimento" (A
Casa, 1927, n.36, p.17). São apresentados dois projetos de habitação
com desenhos de fachadas, perspectivas e alguns detalhes dos materiais, mas
sem indicações sobre o espaço interno. Este mesmo artigo também ilustra a
introdução do uso do cimento na construção habitacional. Esse material aparece
como extremamente moderno e flexível, mas se prestaria também a formas tradicionais.
Como a imagem do projeto é de uma cabana, pode ser usado para fins decorativos:
o uso de pedras para fazer uma base rústica é de grande efeito; entretanto,
as mesmas podem ser substituídas por uma imitação feita com cimento.
Cabe por fim destacar o encantamento (não necessariamente efetivo) pela possibilidade
de industrialização de componentes da construção, como as "Chapas que substituem
os pequenos ladrilhos ou azulejos" (A
Casa, 1927, n.36, p.22) recém lançadas "na América".