Os anos 1970
Os argumentos para que a industrialização da construção brasileira se efetive
urgentemente, assim como na década de 50, comparecem no artigo "Subsídios
para uma política de industrialização da construção no Brasil" (Acrópole,
1970, n.380, p.32-37) do arquiteto Paulo Bruna. O autor trata, primeiramente,
da experiência européia, baseada na idéia central de Walter Gropius que a
moradia é um "problema de necessidade das massas". Sendo assim, nega a possibilidade
de qualquer intervenção do usuário no processo industrial de fabricação de
casas (devendo ser normalizado e seriado) e amplia a atuação dos técnicos
no alcance de resultados satisfatórios no que se refere à economia, mas também,
tecnologia e forma. Paulo Bruna coloca a industrialização como base necessária de uma política
habitacional mais segura e mais organizada, mas não explicita as consequências
para os operários da construção civil embebidos pelo
saber dos processos artesanais. Os benefícios do rigor da produção
industrializada ficam claros para o leitor (industrial, arquiteto ou técnico),
mas nem tanto para os trabalhadores.
Nesse cenário da pré-fabricação e da industrialização, exemplos de habitações são mostrados, mas vinculando a questão habitacional
à solução puramente técnica.
(1) Oscar Niemeyer mostra as "Habitações
coletivas" (Acrópole, 1970, n.369, p.29) "com o objetivo de
enfrentar, em grande escala, o problema habitacional de Brasília";
(2) o projeto da "Casa-Tubo" (Acrópole, 1971, n.390-91, p.35) trata a moradia como um "objeto, isto
é, como resultado de um sistema construtivo";
(3) a casa apresentada no artigo "Casas
Pré-fabricadas em fiberglass" (Acrópole, 1971, n.390-91, p.36)
apresenta uma solução dos problemas para "casas de veraneio, acampamentos
de obra para locais de dífical acesso". No mínimo, demonstra o errôneo entendimento
do que seja o universo da habitação.
Na contra mão da busca pela resposta aos problemas habitacionais pela tecnologia,
são apresentados os programas africanos das "Aldeias
Comunais" (Módulo, 1977, n.47, p.24-25) e da "Autoconstrução
assistida" (Módulo, 1977, n.47, p.26-27), mostrando que a solução
poderia não estar vinculada à tecnologia, O primeiro programa, no vale do
Limpopo, utiliza "amplamente a experiência do habitat tradicional" e seus
materiais locais. "As famílias são convidadas a construírem inicialmente três
peças, aumentado gradativamente a moradia pela justaposição de novos cômodos
(um máximo de nove) em torno de um central". No segundo programa, as operações
da autoconstrução são apresentadas como a solução mais adequada à realidade
social e econômica de Maputo: "em grupos de oito ou dez famílias apoiadas
nos fins de semana, por brigadas de voluntários, as obras são construídas
simultaneamente, de acordo com os planos executados pela Direção da Habitação
que distribuiu folhetos ensinando como realizá-las e apoiando, através de
um estaleiro, com o fornecimento de materiais de construção".
As propagandas continuam a promover a racionalização da construção e a cultura
do cimento e do concreto: as "Lajes
Volterrana" (Arquiteto, 1972, n.7, p.6) e o "Verobloco" (Arquiteto, 1978, n.56, p.18). Importante lembrar da divulgação da
normalização do bloco de concreto estrutural, em referência ao trabalho do
arquiteto Carlos Tauil, "Blocos
de concreto com função estrutural agora normalizados" (Arquiteto,
1978, n.56, p.19). Tauil foi um dos pioneiros da implantação da alvenaria
estrutural no Brasil e, em 1981, viria a publicar o livro "Alvenaria estrutural".
Nesta matéria publicitária, recomenda a utilização do bloco de concreto, criando
a expectativa de ser mais aceito frente ao concreto convencional.