+Favela -Lixo

EMPEPI TOP 10

Crianças, pais, professoras e secretario municipal de educação comemoram o título de TOP10 melhores escolas do mundo
Celebrações do TOP10

Em julho de 2023 a Escola Municipal Professor Edson Pisani foi eleita uma das 10 melhores escolas do mundo na categoria "Colaboração Social" pelo Grupo T4Education.

Apresentação da escola

A Escola Municipal Professor Edson Pisani começou suas atividades há mais de 30 anos no Aglomerado da Serra. Atende hoje a seiscentos estudantes, divididos em 23 turmas de Ensino Fundamental, sendo dez turmas no turno da manhã e dez no turno da tarde, para crianças de seis a dez anos; e outras três turmas à noite, na Educação de Jovens e Adultos/EJA, com estudantes de quinze a setenta anos. A escola também mantém o Programa Escola Integrada, que garante uma extensão da carga horária escolar para metade das crianças dos turnos da manhã e da tarde. Elas são atendidas no contraturno das aulas regulares com atividades educativas, culturais, esportivas e de lazer. O público discente da escola sempre foi uma parcela economicamente empobrecida da população, composta por trabalhadores que, apesar de historicamente construir a cidade, nela sempre tiveram o direito à moradia negado e da qual foram sequentemente removidos. Hoje, aproximadamente 100.000 pessoas vivem nos morros do Aglomerado da Serra, uma das maiores conurbações de favelas do Brasil. Essa grande favela abriga inúmeros problemas, mas também muitas pessoas e organizações dispostas a trabalhar para que toda sua população possa ter qualidade de vida e seus direitos garantidos. E, inserida nesse contexto, a Escola Municipal Professor Edson Pisani, sempre participa, apoia e abriga diversas ações executadas com a Comunidade.

Detalhamento do trabalho na categoria escolhida

Para iniciar o detalhamento da proposta de trabalho na temática Colaboração com a Comunidade, é preciso primeiro contextualizar o espaço onde o mesmo é desenvolvido, o Aglomerado da Serra, uma das maiores e mais antigas favelas do Brasil. Assim como as demais favelas, sua origem e existência estão fortemente ligadas à luta pelo direito à moradia.
Há mais de cem anos se estabeleceram as primeiras habitações onde hoje é o Aglomerado da Serra, sem nenhum direito básico garantido, nem mesmo água tratada, saneamento, transporte etc. Tudo sempre foi negado à sua população, que aprendeu desde sempre que deveria lutar por seus direitos. De uma dessas lutas, lideradas pelas mães, nasceu há trinta e dois anos a Escola Municipal Professor Edson Pisani - EMPEPI que hoje é palco, ponto de partida e eixo importante das organizações e movimentos populares que acontecem na favela. Essa importante atuação da Comunidade Escolar da EMPEPI se deve à sua capacidade de articulação tanto com o poder público, quanto com lideranças locais, e, principalmente, com sua capacidade de mobilização social. Estudantes, famílias, vizinhos, funcionários e outros parceiros da cidade, por inúmeras vezes, somaram seus esforços a fim de educar, discutir e propor ações e lutas por melhorias para a população do Aglomerado.
No início dos anos 2000 aconteceram, em algumas favelas no Brasil, um número significativo de obras públicas estruturais. Na cidade de Belo Horizonte, essas obras ficaram conhecidas como Programa Vila Viva que, no Aglomerado da Serra realizou, como principal obra, a construção de uma via para veículos automotores utilizada para fazer a ligação das regiões leste e centro sul da cidade. Esta via corta e divide a favela.
No ano de 2014, houve a proposta de uma segunda fase do Programa Vila Viva, com algumas intervenções incluindo o alargamento da rua onde a Escola está localizada. A mobilização organizada pela escola garantiu que a população fosse escutada e que tivesse seu direito à informação garantido. Como o acesso aos projetos não era possível junto aos órgãos e pessoas responsáveis, em parceria com as Faculdades de Arquitetura e de Direito da UFMG foi possível o acesso ao Projeto e Arquitetos e Engenheiros foram mobilizados para diversos encontros com a população, a fim de explicar o que seria feito e como a casa e a vida de cada um seria impactada pelas obras. O que percebeu-se ao final dessas conversas é que as propostas não atendiam aos anseios e necessidades da população e ainda trariam diversos prejuízos para a maioria das pessoas diretamente atingidas. A escola garantiu, por meio dessa ação, voz à população, bem como, impedir a remoção das famílias e a execução do projeto como proposto.
Ainda trabalhando com todas as questões geradas pelo Programa Vila Viva um novo problema começou a ser relatado pelas famílias e estudantes da escola. Por volta de 2014, com a abertura das vias e a finalização das etapas desse Programa, o entulho das casas removidas foram deixados em diversos pontos da Comunidade. Com isso, espaços onde antes havia casas, passagens de pedestres, nascentes, córregos e pequenas áreas verdes, viraram pontos de perigo para a população local, que viu aumentar a quantidade de lixos e de muitos problemas por ele ocasionados como uma enorme quantidade de ratos e outras pragas e de doenças, como a dengue.
Além de todos os problemas acima apresentados, outro que destacou-se foi a questão das águas urbanas, que sempre despertou especial interesse da Escola, já que o Aglomerado da Serra tornou-se viável e resistiu no tempo graças a generosidade da natureza do local onde ele está inserido, em montanhas que vertem águas em inúmeros pontos de nascentes, poços e córregos. Água pura e cristalina que por muitas décadas era a que matava a sede e servia a todas as necessidades básicas da população. Nesse contexto, a Escola firmou parceria com a Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais a fim de servir como uma espécie de laboratório para o melhor entendimento dos Problemas e Soluções, gerados pelas águas, na comunidade. Assim surgiu o Projeto Águas na Cidade, que buscou compreender e explicar inúmeras questões trazidas pelos estudantes, suas famílias e professoras, como, por exemplo: O que está acontecendo com as águas naturais que existiam e existem no Aglomerado? Para isso, foi realizado um mapeamento detalhado dos pontos de água conhecidos pela população local, visitas a alguns desses pontos feitas pelos estudantes e professoras e também houve um estudo sobre a como pensar e criar interfaces propositivas que conectam a teoria dos materiais didáticos com a realidade da favela.
Outra importante luta foi protagonizada pela Escola em conjunto com os moradores em 2018: a implantação de uma linha de ônibus, com uma tarifa diferenciada, pensando no atendimento à população economicamente mais pobre, que possibilitasse aos moradores da favela, que em sua maioria não tem carro, utilizar a nova avenida que foi construída durante o Programa Vila Viva. Mesmo a avenida sendo ampla o suficiente para a passagem de ônibus, em nenhum momento durante o projeto, execução ou quando a mesma ficou pronta, os órgãos responsáveis pela administração municipal do transporte público, propuseram a implantação de uma linha de ônibus. Inúmeras reuniões foram feitas na escola, mostrando a necessidade e a viabilidade da linha. Os técnicos da prefeitura sempre diziam da inviabilidade da mesma, resposta essa que sempre foi refutada pela Comunidade Escolar que dentre muitas das ações realizadas, organizou um abaixo assinado com quase 10.000 assinaturas confirmando o desejo e necessidade do ônibus pela Comunidade. Após uma longa luta, a prefeitura implantou a linha de ônibus S19, que garante acesso ao metrô, comércios, escolas, hospitais e diversos outros pontos aos moradores da Favela e da Cidade.
Em continuidade ao protagonismo da Escola, à parceria já consolidada entre esta e a Faculdade de Arquitetura, atendendo a uma demanda antiga, sempre presente da população, das professoras e funcionários e com o objetivo de conhecer, refletir e propor ações efetivas sobre os inúmeros problemas ocasionados pelo lixo na favela, surge no início de 2022 o Projeto + Favela - Lixo. Inúmeras ações foram realizadas no último ano, de maneira diversificada para as diferentes situações que se apresentaram sobre a questão.
Como destacado no texto são muitas as ações que demonstram a atuação da escola junto à Comunidade onde ela está inserida. Todas essas iniciativas sempre partiram do princípio de percepção e escuta dos relatos dos problemas existentes, bem como, da participação, inclusão, formação, busca por parcerias e autogestão das soluções propostas. Isto só é possível porque os diferentes atores envolvidos compreendem e acreditam que muitas vezes o papel que eles exercem é o de mediadores do acesso ao conhecimento que leva a soluções que visem o bem comum, a garantia de direitos e a formação para a cidadania.

Impacto e resultado

Para pensar no impacto e no resultado, apresentamos um pouco do que já foi feito, mesmo que com pouco tempo e recurso, através do projeto + Favela - Lixo. Começamos com encontros com os moradores para conversar sobre o problema do lixo na favela. Eles falaram sobre sua percepção a respeito do lixo existente na favela; os diferentes tipos de lixos produzidos pelos moradores; o tipo de lixo que mais os incomoda; por que acham que tem tanto lixo pelas ruas da favela; quais seriam algumas soluções possíveis para esse problema; etc. A partir dessas conversas propostas e ações pensadas e divididas em três frentes principais:
1ª Problema: o Lixo doméstico. Proposta de confecção e instalação gratuita para os moradores de Placas Ganchos/porta-lixo nas casas. Essa ação consiste na fixação de ganchos para evitar que o lixo seja depositado no chão ou jogado em lixões. Atualmente, 75 foram instaladas, com a ajuda de doações para custeá-las. Um outro tópico que faz parte dos estudos e ações dessa frente é o resíduo orgânico, com propostas de utilização da compostagem para criação e manutenção de hortas comunitárias, a começar pela cozinha da Escola, que gera um grande volume de resíduos orgânicos de ótima qualidade para compostagem, e onde já foi iniciada uma etapa desse processo em um terreno ao lado;
2ª Problema: o Lixo Coletivo. Proposta de atuação em pontos onde já existe descarte irregular de lixo, com a criação de jardins, colocação de lixeiras para reciclagem e atuação junto aos moradores mais próximos para formação e educação quanto ao problema gerado por eles, para eles e a importância da participação de todos para a eficácia das ações;
3ª Problema: O Lixo das Obras de construção civil. Proposta de uso do entulho gerado pelas obras que acontecem na favela para fabricação de mini gabiões que podem ser utilizados para estabilização de terrenos na própria favela, visto que a mesma encontra-se em uma região montanhosa, com áreas com risco de deslizamentos. Os mesmos também podem ser utilizados para a criação de vias e novos espaços comunitários.

As matérias associadas ao prémio podem ser consultadas em:

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